sexta-feira, maio 22, 2009

Ciúmes do Roberto


O azar do Bibiu (ex-presidente de ala da Portela) foi ter-se apaixonado por uma fã do Roberto Carlos. Ele era um mulato alto, cabelo black; e ela, filha de alemães, era uma loura de olhos verdes, que vagavam perigosamente pelo infinito quando ouvia as canções do Rei.

Um dia, para desespero do Bibiu, a loura saiu para assistir a um show do Roberto. O mulato, então, resolveu apelar. Misturou colorau, erva doce, orégano, água e sal, virou o copo e, maquiavelicamente, espalhou a solução macabra na penteadeira. Parecia formicida.

Foi o que a loura imaginou quando chegou em casa, horas depois. E teve certeza imediata do “suicídio” quando viu Bibiu, estirado na cama, fingindo-se de morto. 

Entrou em parafuso, chorou e se disse arrependida por aquele vacilo momentâneo. 

Bibiu, então, abriu os olhos, deu um largo sorriso e disse, emocionado:

- Você me ama!



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quarta-feira, maio 20, 2009

Lendas e mistérios de um clássico

Portela 1970: Lendas e Mistérios da Amazônia

Lendas e mistérios não são privilégios da Amazônia. O samba que levou a Portela ao título de 1970 e é considerado um dos mais bonitos de sua história, também carrega uma boa dose de folclore. Dois de seus três autores já morreram: Sebastião Vitorino Teixeira dos Santos, o Catoni, e Waltenir . O trio venceu mais dois concursos de sambas-enredos na Águia: em 1967, com Tal dia é o batizado; e, em 1977, com Festa da Aclamação.

O único remanescente do grupo é o taxista aposentado Dinckel Martins, o Jabolô. Revela que, apesar das diversas regravações, jamais ganhara um centavo com o samba da Amazônia. “O que pingou, dei pro Catoni. Naquela época, ele estava em dificuldades. Assinei uma procuração e deixei minha parte pra ele. Se ajudou em alguma coisa, não sei.” – comenta. 

Jabolô não esconde que Catoni era o mais inspirado da parceria; Waltenir colaborava mais nos ajustes. Depois de receberem a sinopse do enredo criado por Clóvis Bornay e Arnaldo Pederneiras, os três compositores fizeram diversos encontros na residência do taxista, em Irajá. Outras aconteceram no bar Salada Tropical, em frente à estação de Madureira, e outras mais no Aero Willys com o qual Jabolô trabalhava na praça. “Dos três, a  situação menos ruim era a minha; já que os dois parceiros estavam desempregados...” – lembra.

Naquela época, não havia patrocinadores para financiar prospectos. Jabolô teve que fazer extras no volante para conseguir a verba dos panfletos: “Eu atravessava um qualquer para um amigo que trabalhava na gráfica da Prefeitura. Ele confeccionava os papéis lá dentro e, no final das contas, ficava bem barato. Rodou mais de 40 mil letras do samba...” – confessa sobre o apoio involuntário da municipalidade.

Catoni vivia mais em Jacarepaguá, onde morava, do que em Madureira. Fez do poeta Joaquim Domingues, também já falecido, o seu mentor. Joaquim era dono de uma funerária no Largo do Tanque. Nos fundos da loja, no silêncio dos caixões, recebia o discípulo para analisar os progressos de Lendas e Mistérios da Amazônia

O jornalista Leo Montenegro (falecido em julho de 2003), autor da coluna O Avesso da Vida, em O Dia, testemunhou diversos encontros entre Catoni e Joaquim – que dedicava o seu talento aos sambas de empolgação para o bloco Bafo de Bode, ali das redondezas. Leo era amigo dos dois sambistas e também residia em Jacarepaguá, na Freguesia.

Num desses convescotes, regados a cerveja, é claro, o portelense Leo também teve a oportunidade de dar a sua contribuição. Conta que os autores estavam aflitos com um buraco que havia entre as primeira e segunda estrofes. O intervalo poderia gerar o atravessamento do samba. O jornalista, então, recorreu a um macete de redação, sugerindo que fizessem um encadeamento entre as duas partes, usando a expressão “E dizem mais...” O intervalo foi preenchido sem que a poesia da letra perdesse a fluência. Era o toque que faltava.

Pois então, cantemos...


Nesta avenida colorida
A Portela faz carnaval

Lendas e mistérios da Amazônia
Cantamos neste samba original
Dizem que os astros se amaram
E não puderam se casar
A lua apaixonada chorou tanto
Que do seu pranto nasceu o Rio-Mar


E dizem mais
Jaçanã
Bela como uma flor
Certa manhã viu ser proibido o seu amor
Pois um valente guerreiro
Por ela se apaixonou
Foi sacrificado pela ira do Pajé
E na Vitória-Régia
Ela se transformou
Quando chegava a primavera
A estação das flores
Havia uma festa de amores
Era a tradição das amazonas
Mulheres guerreiras
Aquele ambiente de alegria
Terminava ao raiar do dia


Ô esquindô lá lá
Ô esquindô lê lê
Olha só quem vem lá
É o Saci Pererê


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sábado, maio 16, 2009

O samba número 2


O episódio é recente e exige cautela – razão que nos leva a fantasiar nomes de personagens e lugares, a fim de evitar problemas ainda maiores ao protagonista desta insidiosa trama do destino.

Aconteceu com uma figurinha das mais conhecidas no mundo do samba, que, de repente, descobriu que também tinha o talento para compor sambas-enredos. Fez a quadrinha do refrão intermediário, passando a integrar a parceria que iria disputar o concurso de sambas-enredo de um bloco cuja quadra fica bem no alto de um morro da Zona Norte.

Quatorze sambas foram inscritos, mas apenas três ficaram para a finalíssima, marcada para uma agitada noite de sábado. E entre os finalistas estava o do nosso inspirado compositor – que, empolgado, fretou um frescão para transportar a sua fiel e animada torcida.

Naquela noite, o ônibus de luxo entalou no meio do caminho, já que a traseira arrastava na pirambeira, impedindo-o de avançar ladeira acima. Os torcedores tiveram que seguir a pé mesmo, como os do Grêmio (“Até a pé nós iremos…”). Foram escoltados pela turma do DPO, a pedido do ilustre visitante, que pediu proteção para os seus admiradores.

Já na quadra, o nosso inspirado compositor foi recebido por um mulatinho chamado Buiú – autor de outro samba concorrente -, que foi logo dando a dica:

- A gente sabe que o teu samba é o melhor dos três; mas fica de olho no primeiro. É um tremendo boi-com-abóbora, mas dizem que o Futoco está por trás.

- Futoco?! – estranhou o visitante:- Quem é Futoco?!

Buiú arregalou os olhos:

- Fala baixo… - e segredou:- Ele é o cara…

O inspirado compositor entendeu. E olhou desolado para a sua torcida, sabendo que  não havia muito a fazer.

Apesar de ter sido o melhor samba a se apresentar na quadra, o compositor estreante foi obrigado a entender quando o apresentador anunciou que a composição apoiada por Futoco era a grande vencedora da noite. Por unanimidade.

Buiú veio confortar o visitante:

- Você foi o campeão moral. Teu samba é bom pra caramba. Valeu!

Os visitantes tiveram que descer a pé até o asfalto, porque o motorista do frescão não era louco para ficar dando mole na boca do lobo. Deu no pé.


*     *     *

Na semana seguinte, o inspirado compositor recebeu um telefonema de Buiú, que perguntava, ansioso:

- Já tá sabendo?

- De quê? – o compositor respondeu com outra pergunta.

Buiú explicou:

- Quebraram o Futoco. E, diante das circunstâncias, a diretoria do bloco resolveu desclassificar o samba dele e fazer outra disputa no sábado.

Os olhos do novato brilharam:

- Outra disputa?!

- Sim, entre o teu samba e o meu. Mas, agora é mole pra vocês – sorriu.

Animado, o compositor estreante alugou outro frescão e, dessa vez, levou mais torcedores ainda.

O samba do visitante deu um show da quadra, com direito a foguetório e um variado repertório de paradinhas com a bateria de Mestre Chulé. A torcida, em coro, gritava:

- É campeão! É campeão! É campeão!

Mas, na hora de anunciar o resultado, mais uma vez o apresentador surpreendeu a todos. E declarou vencedor o samba assinado por Buiú.

O compositor estreante entrou em desespero. Recorreu ao próprio Buiú:

- Você foi o primeiro a reconhecer que o meu samba era o melhor. Por que fizeram isso comigo?! – indagou, quase chorando.

Buiú respirou fundo, estufou o peito e deu a notícia em primeira mão:

- Agora, eu sou o cara.


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sexta-feira, maio 15, 2009

A Primeira Missa na Rio Branco


Tempos difíceis para a antiga Foliões de Botafogo, no início da década de 70, relegada ao terceiro e derradeiro grupo. Com o caixa baixo e sem nenhuma perspectiva de grana, a diretoria optou por um enredo barato: “A Primeira Missa no Brasil” – sentenciou o presidente, explicando o motivo: “Vem todo mundo de índio”. 

Mas até os índios estavam escassos. Diante do fracasso que se desenhava, ninguém se animava a desfilar. Os ensaios eram uma tristeza só.

Um dos diretores resolveu pedir socorro a um amigo da Zona Oeste, presidente de um bloco de Realengo – cuja tradição era carregar para as ruas do bairro centenas de foliões fantasiados de índios. Seria a salvação.

A direção da Foliões se comprometeu a enviar cinco ônibus a Realengo para trazer a tribo inteira. E assim foi. No dia e horário marcados, os ônibus encostavam na concentração da Rio Branco, trazendo uma legião de guerreiros suburbanos.

Eram centenas de apaches, bem ao estilo Velho Oeste, com roupas franjadas, tiras de esparadrapo no rosto e cada um com uma espingarda na mão.

*     *    *

Não ficou por aí. Cercando o encabulado Frei Henrique Soares, os apaches da Foliões também faziam uma estranha coreografia. Voltavam-se todos para a direita, levantavam o trabuco e bradavam a uma só voz:

- Uhhhh!

Depois, marchavam para o lado esquerdo, levantavam a espingarda e…

- Uhhhh!

Até que um dos diretores de harmonia, espumando de raiva, pagou geral:

- Que vocês não saibam a letra do samba eu até admito. Mas, vão vaiar o cacete!



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quarta-feira, maio 13, 2009

A luz divinal de Darcy

Treze de Maio é data solene e merece ser comemorada em alto nível. Fui lá no fundo do baú pegar uma matéria feita para o jornal O Dia, em 1994. Saudando Darcy da Mangueira, elevo o pensamento a todos os que nos ensinaram a amar o samba.

O hino estava mais do que pronto. Pelo menos, era o que parecia. Afinal, foram diversos almoços e jantares em Vila Kennedy, Zona Oeste do Rio, até que Darcy e seus parceiros, Luiz e Batista, concluíssem que a composição já pudesse participar da disputa na quadra da Estação Primeira.

Apesar de o samba que exaltava “O mundo encantado de Monteiro Lobato” já estar na 14ª versão, e da confiança dos parceiros, Darcy achava melhor esperar mais um pouco. Tinha a certeza que alguma coisa ainda podia ser melhorada. Mas, o quê? Ele mesmo não encontrava a resposta.

Como fazia diariamente, o taxista Darcy Fernandes Monteiro pegou o ônibus em direção ao Centro, onde tomaria uma segunda condução rumo à Rua Frei Caneca, no Estácio. Era lá que ficava a garagem da empresa em que trabalhava, no horário noturno, na diabólica bandeira dois.

Aquele final de tarde da primavera de 1968 parecia diferente dos outros. Passava das 17 horas e o céu, na linha do horizonte, apresentava um colorido especial. Nuvens mesclavam-se em diversos tons que oscilavam do vermelho, passando pelo laranja, até chegar no amarelo. Darcy ficou embevecido com o show da natureza. De repente, pegou-se cantarolando os primeiros versos do samba que ficaria para a posteridade e jogaria a versão anterior no lixo, definitivamente:

- Quando... uma luz divinal... iluminava a imaginação... de um escritor genial...

Extasiado com o pôr-do-sol, percebeu que os versos saíam naturalmente. Abriu a capanga, pegou papel e caneta, anotando tudo. Firmava a melodia a todo momento, para gravá-la na memória. Os passageiros que estavam à sua volta imaginaram que aquele escurinho não fosse uma pessoa normal.

- Naquela noite, não fui trabalhar. Parti direto para a Mangueira, para o Só Pára Quem Pode, o barzinho do Walter Policarpo, tio de Ivo Meireles. – lembra Darcy – Cantei a primeira estrofe para o Walter, que ficou empolgado. E anunciou: “Este vai ser o samba da Mangueira!” E pediu, quase implorando, que nós não mexêssemos em mais nada.

Em seguida, Darcy telefonou para os parceiros, convocando-os em caráter de urgência urgentíssima. O primeiro a chegar foi Luiz, que trabalhava ali, nas proximidades do Buraco Quente, na Superintendência de Transportes do Estado. Pouco depois, era o Batista, servidor da Aeronáutica. Os dois não acreditaram no que ouviram. O novo samba parecia infinitamente melhor do que o outro. Porém, ainda não estava perfeito.

- Ele começava em tom menor. Mas o Batista encontrou o caminho para chegarmos ao tom maior. E, aí sim, ficou justinho, na manha. – comenta Darcy.

Juntou gente. Enquanto a segunda parte era montada, Hélio Turco, misturado aos curiosos, deu algumas “palhetadas”. Por isso, Darcy achava justo incluir o seu nome aos dos três autores. Turco agradeceu, esnobando. Informou que o seu samba já estava pronto, em parceria com Zagaia.

Hélio Turco é o maior vencedor de sambas-enredos da Verde e Rosa. Mas, por mera vaidade, perdeu a chance de assinar o grande clássico da história mangueirense.

 

Em homenagem a Darcy, seus parceiros e ao Treze de Maio, cantemos:

Quando uma luz divinal

Iluminava a imaginação

De um escritor genial


Tudo era maravilha

Tudo era sedução

Quanta alegria

E fascinação


Relembro...
Aquele mundo encantado


Fantasiado de dourado


Oh! doce ilusão


Sublime relicário de criança


Que ainda guardo como herança


No meu coração





Glória a este grande sonhador


Que o mundo inteiro deslumbrou


Com suas obras imortais


Vejam quanta riqueza exuberante


Na escritura emocionante


Com seus contos triunfais


Com seus personagens fascinantes


Nas histórias tão vibrantes


Da literatura infantil


Enriquecem o cenário do Brasil



E assim...


E assim, neste cenário de real valor


Eis... o mundo encantado

Que Monteiro Lobato criou

 

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terça-feira, maio 12, 2009

Inspiração no banheiro

A Mocidade atravessava um momento difícil, sem poder contar com o apoio da família Andrade para o Carnaval de 1995. 


O carnavalesco Renato Lage (foto) fora almoçar com o presidente José Roberto Tenório para conversar sobre o enredo, que ainda não tinha nome, mas objetivava resgatar a auto-estima dos componentes. De um lado, Renato vibrava com as suas ideias; do outro, Tenório se lamentava sobre os obstáculos enfrentados por sua administração - e o pior deles era a falta de dinheiro. 


O carnavalesco pediu licença para ir ao banheiro e o presidente foi atrás, chorando mais dificuldades. Lá dentro, Renato olhou para o teto e reagiu em tom de desabafo:


- Padre Miguel, olhai por nós!


Zé Roberto vibrou:


-É isso aí! O título é esse! – e foi mesmo.


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quarta-feira, maio 06, 2009

A entrega do troféu


A quadra da Caprichosos de Pilares lotou para prestigiar a fundação da recém-criada Associação de Compositores de Sambas-Enredos do Rio de Janeiro.

Depois de inúmeras apesentações de sambistas, chegara o grande momento. Foram chamados ao palco os fundadores da entidade, dirigentes da Liga e da extinta Liesga, que reunia as agremiações dos Grupos de Acesso.

Esgoelando-se ao microfone, o apresentador chamava o compositor David Correa (foto) – um dos principais responsáveis pela criação da Associação. David estava no banheiro. Lavou as mãos e saiu correndo na direção do palco, onde entregaram-lhe um imenso troféu.

O compositor ficou emocionado. Tentando segurar as lágrimas, afirmava ter sido pego de surpresa:

- Sou apenas um de vocês, meus companheiros. Estamos juntos nessa luta. Não precisavam se preocupar com o troféu…

Foi quando o apresentador interrompeu David, delicadamente, e explicou ao microfone:

- Não, David, este troféu não é seu.  É para você entregá-lo ao Acyr Pereira Alves, presidente da Estácio e diretor da Liesa.

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terça-feira, maio 05, 2009

Na volta da feira


O grande sonho de um antigo morador da rua Jorge Rudge, em Vila Isabel, era apertar a mão do vizinho Jamelão. O sujeito era fã de carteirinha e já havia confessado a sua admiração aos amigos em inúmeras rodinhas de chope, no Bar da Cachopa.

Foi numa manhã de terça. O sujeito estava passeando com o netinho no colo quando viu Jamelão retornando da feira. Ficou alucinado. Finalmente, chegara o grande momento!

Virou a criança de lado – era um menino lourinho, de uns nove ou dez meses – e ficou falando para ele, todo assanhado:

- Olha quem vem lá, filhinho! É o Jamelão! É o Jamelão! É o Jamelão, meu netinho...

Jamelão continuou caminhando no mesmo compasso, até se aproximar do sujeito. Pousou a bolsa de compras no chão e disse-lhe, secamente:

- Puxa-saco. Por acaso ele me conhece?

Pegou a bolsa de compras novamente e seguiu adiante.



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sábado, maio 02, 2009

A cerveja era outra

Silvan Neto, autor do jingle, com Hilton Gomes (Foto Almanaque da Comunicação)

Silvan Castelo Neto criou, em 1948, para a Charles A. Ulmann Propaganda, o jingle de maior sucesso no rádio brasileiro, executado nos prefixos e nas transmissões esportivas:

“Quem gosta de cerveja/Bate o pé, reclama/Quero Brahma, Quero Brahma/Sentindo-lhe o sabor/Sem hesitar proclama: /Esta sim, está prá mim, é Brahma”.

Tempos depois, o jingle sofreu pequena alteração nos versos interiores, ficando assim:

“Quem gosta de cerveja/Bate o pé, reclama/Quero Brahma, Quero Brahma/Depois que a Brahma vem/ Não se contenta e exclama:/ Esta sim, está prá mim, é Brahma”.

E foi desse jeito que o mestre de cerimônias saudou a entrada do então presidente da Liesa e da Liesga, Paulo de Almeida, que estava sendo homenageado na Rio-Sampa.

Acompanhado pelo grupo de pagode que animava a feijoada na tarde daquele sábado, o apresentador cantou o jingle diversas vezes até que alguém, a pedido do presidente, subisse ao palco e lhe dissesse ao pé do ouvido:

- Quem está bancando o evento é a Kaiser…

E só então o apresentador percebeu o imenso painel que decorava o fundo do palco.


Informações sobre o jingle – Almanaque da Comunicação


Coyright Cláudio Vieira – 2009

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sexta-feira, maio 01, 2009

Brasão, o metalúrgico

Paulo Brasão, o soba da Kizomba e da História da Vila (Foto Mozart Trindade, 1988)


Chamava-se Paulo Gomes de Aquino, o Paulo Brasão, como era respeitado nas rodas de samba. Era metalúrgico e quando convidado para uma entrevista pedia sempre que o procurassem depois das 17h37 - horário em que marcava o cartão de ponto. Até hoje é o maior vencedor de sambas-enredos da Vila, com 17 vitórias. Exerceu a presidência da Branca e Azul (para ficar diferente das co-irmãs, a Vila foi registrada assim) em três mandatos.


Brasão era tão querido e estimado entre os seus que, no desfile da Kizomba, já sofrendo as seqüelas de um derrame, veio sentado em um trono á frente da Escola, representando o grande soba (pensador) da tribo africana. A sugestão foi de Martinho da Vila, autor do enredo.


Voltemos no tempo, deixando aquele desfile de 88 guardado no gongá da eternidade. Agora, estamos em 1983, na véspera do carnaval. Noite de sexta-feira, a quadra da Vila (onde atualmente é o Shopping Iguatemi) estava lotada. Brasão comandava a reunião de diretoria, acertando os últimos detalhes. Os problemas eram muitos.


Do barracão, o carnavalesco Fernando Cunha (já falecido) mandava sucessivos recados, informando que faltava dinheiro para um monte de providências. O tesoureiro Cornélio Capeletti se desespera. Outros diretores reclamavam, cobrando melhor planejamento. A rapaziada da harmonia saiu para fazer uma reunião em separado. O único que manteve a calma e o equilíbrio foi Brasão, permanecendo calado, olhar perdido num ponto qualquer.


De repente, o presidente abandonou os diretores e saiu correndo na direção da quadra, que cantava os versos de Os Imortais – enredo que homenageava a Academia Brasileira de Letras. Brasão subiu no palanque, puxou o microfone das mãos do intérprete Marcos Moran e pediu que a bateria parasse. Depois, deu instruções ao rapaz do cavaquinho e mandou recomeçar tudo, novamente. A massa o atendeu, sem apupos ou questionamentos.


Retomada a reunião, todos queriam saber do presidente a razão de sua atitude. Brasão não hesitou e explicou o que ninguém percebera:


- O Moran estava cantando fora do tom.


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