quarta-feira, maio 13, 2009

A luz divinal de Darcy

Treze de Maio é data solene e merece ser comemorada em alto nível. Fui lá no fundo do baú pegar uma matéria feita para o jornal O Dia, em 1994. Saudando Darcy da Mangueira, elevo o pensamento a todos os que nos ensinaram a amar o samba.

O hino estava mais do que pronto. Pelo menos, era o que parecia. Afinal, foram diversos almoços e jantares em Vila Kennedy, Zona Oeste do Rio, até que Darcy e seus parceiros, Luiz e Batista, concluíssem que a composição já pudesse participar da disputa na quadra da Estação Primeira.

Apesar de o samba que exaltava “O mundo encantado de Monteiro Lobato” já estar na 14ª versão, e da confiança dos parceiros, Darcy achava melhor esperar mais um pouco. Tinha a certeza que alguma coisa ainda podia ser melhorada. Mas, o quê? Ele mesmo não encontrava a resposta.

Como fazia diariamente, o taxista Darcy Fernandes Monteiro pegou o ônibus em direção ao Centro, onde tomaria uma segunda condução rumo à Rua Frei Caneca, no Estácio. Era lá que ficava a garagem da empresa em que trabalhava, no horário noturno, na diabólica bandeira dois.

Aquele final de tarde da primavera de 1968 parecia diferente dos outros. Passava das 17 horas e o céu, na linha do horizonte, apresentava um colorido especial. Nuvens mesclavam-se em diversos tons que oscilavam do vermelho, passando pelo laranja, até chegar no amarelo. Darcy ficou embevecido com o show da natureza. De repente, pegou-se cantarolando os primeiros versos do samba que ficaria para a posteridade e jogaria a versão anterior no lixo, definitivamente:

- Quando... uma luz divinal... iluminava a imaginação... de um escritor genial...

Extasiado com o pôr-do-sol, percebeu que os versos saíam naturalmente. Abriu a capanga, pegou papel e caneta, anotando tudo. Firmava a melodia a todo momento, para gravá-la na memória. Os passageiros que estavam à sua volta imaginaram que aquele escurinho não fosse uma pessoa normal.

- Naquela noite, não fui trabalhar. Parti direto para a Mangueira, para o Só Pára Quem Pode, o barzinho do Walter Policarpo, tio de Ivo Meireles. – lembra Darcy – Cantei a primeira estrofe para o Walter, que ficou empolgado. E anunciou: “Este vai ser o samba da Mangueira!” E pediu, quase implorando, que nós não mexêssemos em mais nada.

Em seguida, Darcy telefonou para os parceiros, convocando-os em caráter de urgência urgentíssima. O primeiro a chegar foi Luiz, que trabalhava ali, nas proximidades do Buraco Quente, na Superintendência de Transportes do Estado. Pouco depois, era o Batista, servidor da Aeronáutica. Os dois não acreditaram no que ouviram. O novo samba parecia infinitamente melhor do que o outro. Porém, ainda não estava perfeito.

- Ele começava em tom menor. Mas o Batista encontrou o caminho para chegarmos ao tom maior. E, aí sim, ficou justinho, na manha. – comenta Darcy.

Juntou gente. Enquanto a segunda parte era montada, Hélio Turco, misturado aos curiosos, deu algumas “palhetadas”. Por isso, Darcy achava justo incluir o seu nome aos dos três autores. Turco agradeceu, esnobando. Informou que o seu samba já estava pronto, em parceria com Zagaia.

Hélio Turco é o maior vencedor de sambas-enredos da Verde e Rosa. Mas, por mera vaidade, perdeu a chance de assinar o grande clássico da história mangueirense.

 

Em homenagem a Darcy, seus parceiros e ao Treze de Maio, cantemos:

Quando uma luz divinal

Iluminava a imaginação

De um escritor genial


Tudo era maravilha

Tudo era sedução

Quanta alegria

E fascinação


Relembro...
Aquele mundo encantado


Fantasiado de dourado


Oh! doce ilusão


Sublime relicário de criança


Que ainda guardo como herança


No meu coração





Glória a este grande sonhador


Que o mundo inteiro deslumbrou


Com suas obras imortais


Vejam quanta riqueza exuberante


Na escritura emocionante


Com seus contos triunfais


Com seus personagens fascinantes


Nas histórias tão vibrantes


Da literatura infantil


Enriquecem o cenário do Brasil



E assim...


E assim, neste cenário de real valor


Eis... o mundo encantado

Que Monteiro Lobato criou

 

Copyright Cláudio Vieira – 2009

Proibida a reprodução – no todo ou em parte do texto – sem a autorização do autor.

 

Um comentário:

Cláudio Vieira disse...

Do amigo Elmo José dos Santos, via email:

Belíssima homenagem a esse grande poeta da minha querida Mangueira!