sexta-feira, maio 01, 2009

Brasão, o metalúrgico

Paulo Brasão, o soba da Kizomba e da História da Vila (Foto Mozart Trindade, 1988)


Chamava-se Paulo Gomes de Aquino, o Paulo Brasão, como era respeitado nas rodas de samba. Era metalúrgico e quando convidado para uma entrevista pedia sempre que o procurassem depois das 17h37 - horário em que marcava o cartão de ponto. Até hoje é o maior vencedor de sambas-enredos da Vila, com 17 vitórias. Exerceu a presidência da Branca e Azul (para ficar diferente das co-irmãs, a Vila foi registrada assim) em três mandatos.


Brasão era tão querido e estimado entre os seus que, no desfile da Kizomba, já sofrendo as seqüelas de um derrame, veio sentado em um trono á frente da Escola, representando o grande soba (pensador) da tribo africana. A sugestão foi de Martinho da Vila, autor do enredo.


Voltemos no tempo, deixando aquele desfile de 88 guardado no gongá da eternidade. Agora, estamos em 1983, na véspera do carnaval. Noite de sexta-feira, a quadra da Vila (onde atualmente é o Shopping Iguatemi) estava lotada. Brasão comandava a reunião de diretoria, acertando os últimos detalhes. Os problemas eram muitos.


Do barracão, o carnavalesco Fernando Cunha (já falecido) mandava sucessivos recados, informando que faltava dinheiro para um monte de providências. O tesoureiro Cornélio Capeletti se desespera. Outros diretores reclamavam, cobrando melhor planejamento. A rapaziada da harmonia saiu para fazer uma reunião em separado. O único que manteve a calma e o equilíbrio foi Brasão, permanecendo calado, olhar perdido num ponto qualquer.


De repente, o presidente abandonou os diretores e saiu correndo na direção da quadra, que cantava os versos de Os Imortais – enredo que homenageava a Academia Brasileira de Letras. Brasão subiu no palanque, puxou o microfone das mãos do intérprete Marcos Moran e pediu que a bateria parasse. Depois, deu instruções ao rapaz do cavaquinho e mandou recomeçar tudo, novamente. A massa o atendeu, sem apupos ou questionamentos.


Retomada a reunião, todos queriam saber do presidente a razão de sua atitude. Brasão não hesitou e explicou o que ninguém percebera:


- O Moran estava cantando fora do tom.


Copyright Cláudio Vieira - 2009

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2 comentários:

Cláudio Vieira disse...

Recebi de Ilvamar Magalhães a seguinte mensagem:

Alô Claudio.

Bom receber seus E-mails, sempre com grandes textos e imágens.

Lembrar Paulo Brasão é sempre emocionante.
Essa foto me faz retornar a Kizomba e eu, fui um dos responsáveis pelo
desfile. Pela vitória.

Abração amigo

Ilvamar

Verdade, Ilvamar. O enredo foi desenvolvido por Milton Siqueira e você - responsáveis por uma das páginas mais emocionantes do nosso carnaval. E nunca é tarde para lembrar e agradecer. Valeu, Zumbi!

Cláudio Vieira disse...

De Elmo José dos Santos, diretor de Carnaval da Liesa:

Cláudio essa foto do saudoso Paulo Brasão é maravilhosa !
Obrigado pelo carinho, estou adorando os casos e causos!

Sou eu que agradeço, Elmo. E em breve terei a honra de contar aqui a história memorável do enterro de Mestre Waldemiro, contada por você.

A casa é sua,

Cláudio Vieira