sexta-feira, maio 15, 2009

A Primeira Missa na Rio Branco


Tempos difíceis para a antiga Foliões de Botafogo, no início da década de 70, relegada ao terceiro e derradeiro grupo. Com o caixa baixo e sem nenhuma perspectiva de grana, a diretoria optou por um enredo barato: “A Primeira Missa no Brasil” – sentenciou o presidente, explicando o motivo: “Vem todo mundo de índio”. 

Mas até os índios estavam escassos. Diante do fracasso que se desenhava, ninguém se animava a desfilar. Os ensaios eram uma tristeza só.

Um dos diretores resolveu pedir socorro a um amigo da Zona Oeste, presidente de um bloco de Realengo – cuja tradição era carregar para as ruas do bairro centenas de foliões fantasiados de índios. Seria a salvação.

A direção da Foliões se comprometeu a enviar cinco ônibus a Realengo para trazer a tribo inteira. E assim foi. No dia e horário marcados, os ônibus encostavam na concentração da Rio Branco, trazendo uma legião de guerreiros suburbanos.

Eram centenas de apaches, bem ao estilo Velho Oeste, com roupas franjadas, tiras de esparadrapo no rosto e cada um com uma espingarda na mão.

*     *    *

Não ficou por aí. Cercando o encabulado Frei Henrique Soares, os apaches da Foliões também faziam uma estranha coreografia. Voltavam-se todos para a direita, levantavam o trabuco e bradavam a uma só voz:

- Uhhhh!

Depois, marchavam para o lado esquerdo, levantavam a espingarda e…

- Uhhhh!

Até que um dos diretores de harmonia, espumando de raiva, pagou geral:

- Que vocês não saibam a letra do samba eu até admito. Mas, vão vaiar o cacete!



Copyright Cláudio Vieira – 2009

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