O ano de 1987 foi um ano amargo para a Vila Isabel. Ao terminar seu mandato, o Capitão Guimarães deixara a presidência para comandar a Liesa; e o América vendera o seu campo – com a quadra de ensaios da Vila – para a construção do Shopping Iguatemi.
Lícia Maria Caniné, a Ruça, assumiu a presidência com a Vila tendo que ensaiar na rua. Os ensaios aconteciam nas noites de sábado, na pista esquerda do Boulevard 28 de Setembro, próximo à praça Barão de Drumond.
A Escola que fora a grande surpresa do carnaval daquele ano (“Raízes”, Max Lopes, samba de Martinho) e “dona” da quadra mais badalada da cidade, agora estava despejada. Fui cobrir o primeiro ensaio para O Dia.
Estávamos debruçados no balcão de uma barraquinha, Ruça, José Leite, Dinorah das Gatas (Afonsina Pires, fundadora dos Herdeiros da Vila) e eu. Perguntei à presidente como ela se sentia vendo a sua Escola ensaiar na rua.
Ruça começou a chorar. As lágrimas foram aumentando, bloqueando qualquer possibilidade de resposta. Ficamos sem saber o que fazer.
Com seu bom-humor permanente, José Leite abriu um sorriso e confortou a presidente, com o seu jeito otimista de ver a vida:
- Não fica assim, Ruça. A Vila tem hoje a maior quadra a céu aberto do Rio. – e apontando para as calçadas da 28 de Setembro, prosseguiu: - É a que tem o maior número de bares, lanchonetes, restaurantes, agências bancárias…
A Vila conseguiu o seu primeiro título naquele carnaval, com Kizomba. Conquistou outro, em 2006. E hoje possui uma das maiores e melhores quadras do Grupo Especial, no mesmo Boulevard 28 de Setembro.
Copyright Cláudio Vieira – 2009
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Um comentário:
Muito legal o blog; registrando pequenos casos e causos envolvendo o mundo do samba, em textos curtos e objetivos, algo que faz falta atualmente.
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