Como fazia habitualmente, Dona Neuma almoçou bem, tomou suas braminhas e foi tirar uma soneca no sofá da sala, onde a porta estava sempre aberta. A casa da filha de Seu Saturnino tinha uma frequência somente comparável à da própria quadra, ali ao lado.
Naquela tarde, Dona Neuma foi acordada com alguém batendo no portal. Sobressaltada, deu um pulo do sofá, procurando os óculos. Enxergou apenas o vulto de um homem, que dizia, timidamente:
- Dona Neuma, sou eu, o Nenê.
Dona Neuma nem percebeu que o escurinho usava um terno elegante e fazia mesuras, saudando uma das mais importantes figuras da Corte Verde-e-Rosa. Reagiu, contrariada:
- Que pintor?! Eu não chamei pintor nenhum. Pintei minha casa outro dia. Vocês estão pensando o quê? Que eu sou milionária?
O sujeito ficou mais encabulado ainda. Resolveu se aproximar e se identificou:
- Não sou pintor, Dona Neuma. Sou o Nenê, o Nenê da Vila Matilde.
Era o fundador da afilhada paulistana, que vinha pedir permissão para homenagear a Mangueira no enredo daquele ano.
Copyright Cláudio Vieira – 2009
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