quarta-feira, abril 01, 2009

O espírito explosivo do compositor


A Vila ainda era uma Escola ioiô, oscilando entre os Primeiro e Segundo Grupos. A cada rebaixamento, fervilhava a roda de comentários nos bares da Praça Sete. E uma das vozes que mais protestavam era a de Jarbas, compositor, um dos filhos de Seu China (Antônio Fernandes da Silveira), fundador da Azul-e-Branca.

- Só tem um jeito: explodir aquilo tudo! – alardeava o compositor, com a sua voz rouca, os olhos faiscando de indignação.

Naquela época, no início da década de 70, as reuniões da Vila eram feitas na antiga Escola Torres Homem, na rua Barão de São Francisco, por onde passam os automóveis procedentes do túnel Noel Rosa.

E eis que, numa bela noite, chega o Jarbas, carregando uma sacola suspeita. A reunião da diretoria já havia começado. O compositor passou sem cumprimentar ninguém e ficou sentado numa das últimas cadeiras. Pôs a sacola ao lado.

De repente, a voz rouca de Jarbas fez calar os diretores:

- Isso não tem jeito, não! Mas, hoje, eu vou explodir essa… - levantou-se e enfiou a mão na sacola.

Todo mundo saiu correndo. Não ficou ninguém pra ver. 

Minutos depois, o zelador da escola voltou, apavorado:

- Calma, Seu Jarbas. As crianças precisam da escola pra estudar.

O “terrorista” abriu a sacola:

- São só as minhas ferramentas. – mostrou os pincéis, pacotes de estopa, lixas e um rolo de fita adesiva.


Copyright Cláudio Vieira – 2009

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