Apesar de pouco falado (e lembrado), José Leite foi uma das figuras mais importantes da história da Vila Isabel.
Trabalhou na Escola desde a sua fundação e era uma espécie de braço direito de Seu China, o primeiro presidente. Leite (na foto de Daniel Ribeiro, 1977) sempre foi de jogar para o time, carregando o piano.
Uma de suas missões era fazer visitas periódicas ao ateliê do pintor e escultor Miguel Moura, um dos primeiros carnavalescos da cidade. Nesses encontros, no Centro, surgiam papos e ideias, e deles nasciam os enredos da Vila – cujas alegorias e fantasias eram criadas por Miguel.
Como sempre fazia, Leite embrulhava as pranchas com todo o carinho e tomava o bonde de volta para Vila Isabel.
Certa vez, já no bonde, Leite teve que enfrentar um impiedoso temporal. Ficou mais de oito horas ilhado em diversos alagamentos entre a Presidente Vargas e a Praça Barão de Drumond, com máximo cuidado para que a chuva não respingasse nas telas pintadas a guache.
Era quase meia-noite quando Leite conseguiu descer do bonde com o material são e salvo. Escalou as escorregadias escadarias do Morro dos Macacos para entregar as pranchas a Seu China, que as aguardava desde o final da tarde.
Lá chegando, Leite encontrou o presidente só de calção e tamancos, tomando uma champanhada e ouvindo o noticiário no rádio. Abriu os braços, feliz por ter ter conseguido cumprir sua missão com lealdade e bravura:
- Meu presidente!
China fez aquela cara de cacique mau-humorado e reclamou da hora:
- Vocês não querem p. nenhuma!
Copyright Cláudio Vieira – 2009
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