Peço licença a Nei Lopes para falar de um antigo projeto seu. Há mais de dez anos – e bota dez anos nisso… -, Nei mostrou-me as páginas amareladas de um ensaio que guardava há bastante tempo (há mais de dez anos, talvez). Era o Primeiro Festival de Culinária do Samba.
Calma. Sei que existe um evento com a mesma proposta e já recebi diversos emails divulgando as etapas do circuito. Gostaria apenas de abordar os “considerandos” da iniciativa pioneira do cidadão benemérito de Seropédica, que enfatizava o talento de nossas grandes cozinheiras.
Descrevia ele, lembro-me bem, peculiaridades da cozinha mangueirense, das tripeças portelenses, do cardápio salgueirense, da mesa imperiana. Cada Escola tinha a sua característica – assim como suas cores e seu jeito de ser. Podia-se dizer que eram reconhecidas pelo cheirinho que vinha lá da cozinha.
Permitam-me abrir um parêntese para lembrar um episódio passado (há mais de dez anos também) numa noite de disputa de sambas-enredos. Vínhamos de longe, de uma agremiação onde passamos boa parte da noite em pé, espremidos, porque não havia cadeira nem espaço para jornalistas. Dado o resultado, partimos para a Mangueira, onde a quadra não estava menos apinhada de gente. Mas havia uma cadeira vazia, um refrigerante e uma voz amiga, perguntando ao pé do ouvido:
- Chegaram agora?
- Chegamos.
- Então, esperem aqui. Vou lá pegar uns pastéis que acabei de fritar.
Quem não comeu os pastéis (e a carne assada) de Tia Miúda não conheceu a Mangueira por completo. Nem imagina a razão do espanto quando olhamos a movimentada programação das Escolas de Samba: é feijoada, feijoada, feijoada, feijoada …
E a ousadia? E a criatividade?
(A foto é de Tino Soares)
Copyright Cláudio Vieira – 2009
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