sexta-feira, março 06, 2009

A incrível aventura do Rei Arthur e os cavaleiros da Távola Redonda

Observem o pé direito de Thiago, o Rei Arthur, apoiado na estrutura de ferro, evitando tocar no acrílico (Foto Henrique Matos)


A melhor comissão de frente de 2009 foi a da Portela. Foi a que construiu a melhor coreografia integrada ao enredo e a que teve de superar os maiores graus de dificuldade. 

Nossas opiniões podem divergir. Mas, depois da história que vou contar, acredito que vocês também concordem. É um episódio que passa a fazer parte do acervo do fascinante mundo da Concentração, onde tragédias e glórias nascem do inesperado.

Tudo começou por volta de 18h30 de Segunda-Feira de Carnaval, com um telefonema vindo da Concentração. A Távola Redonda que seria usada pelo Rei Arthur e os Cavaleiros da comissão de frente sofrera um acidente no transporte para a Avenida.

Na queda, a chapa de acrílico vermelho que revestia todo o tampo, partiu. Havia rachaduras na maioria das doze divisões, onde os cavaleiros encaixariam seus escudos durante a performance. E o pior: uma das partes mais afetadas fora o centro do tampo, onde o Rei subiria para saudar o público e apresentar a Escola.

 

Pânico - O coreógrafo Jorge Texera (é sem o i mesmo) ainda se encontrava no barracão conferindo as fantasias que seriam enviadas para o hotel onde os dançarinos estavam concentrados. Com a ajuda de diretores, conseguiu localizar o cenógrafo Glauco Bernardi, que fizera a decoração da Távola (e é responsável pela criação das Águias dos quatro últimos carnavais). Os dois partiram para a Concentração com o objetivo de avaliar a gravidade dos danos.

Sem que houvesse tempo e material disponíveis para reconstruir o tampo quebrado, a única saída seria colá-lo, fixá-lo e esconder as rachaduras. A dúvida seria onde encontrar uma loja aberta àquela hora (passava das 19h30), em pleno Carnaval.

Enquanto o coreógrafo partiu para o hotel, a fim de explicar aos dançarinos o que estava acontecendo, o cenógrafo entrou no automóvel e foi tentar a sorte no comércio vizinho. Encontrou um hipermercado ainda aberto, a poucos metros da quadra do Salgueiro, já no Andaraí. Lá, comprou caixas de durepóxi e uma fita adesiva bastante usada em reparos de pranchas de surf, a silverpape.

O tampo da mesa (que também servia de fundo para o trono reversível) foi todo restaurado com durepóxi e silverpape. As rachaduras foram disfarçadas com galões dourados, que passaram a servir de adornos. A expectativa agora seria com a resistência da chapa, sobre a qual o Rei era colocado no ápice da coreografia. Se o bailarino Thiago Soares pisasse fora da estrutura de ferro da parte central, certamente afundaria com o acrílico partido em plena Avenida.

A questão era tão grave que chegou a se cogitar a possibilidade de abandonar a Távola Redonda. Os riscos, porém, seriam muito maiores, pois ela era a base de toda a coreografia.

 

Emoções - Os reparos da mesa ficaram prontos por volta de 23 h – menos de duas horas antes da Portela iniciar o seu desfile. Durante todo esse tempo, Jorge e os cavaleiros ensaiaram a colocação de Thiago no centro da Távola, para que o bailarino fixasse o local exato onde deveria pisar e distribuir os seus 76 kg. Tudo com muito cuidado, pois a cola ainda estava sem a consistência necessária.

Nos últimos quatro desfiles, foi a primeira vez que Glauco nem teve tempo de olhar a sua Águia. Tenso, caminhava ao lado da comissão de frente, torcendo para que a mesa resistisse. Texera não estava menos nervoso. Mas, depois da exibição diante do Módulo 1 teve a certeza de que nada aconteceria.

O salto de Thiago para o centro do tampo foi repetido inúmeras vezes ao longo do desfile. Com a habilidade e o talento que o elevaram à posição de 1o Bailarino do Royal Ballet de Londres, seus movimentos foram sempre perfeitos e seguros. 

Agora descontraído e orgulhoso pelas três notas 10 e um 9,9 conseguidos, Texera dá um sorriso e revela:

- No Sábado das Campeãs foi pior ainda. A cola e a fita cederam. O tampo estava solto, praticamente. Mas o Thiago já estava tão treinado de onde deveria pisar, que já faria isso até de olhos vendados. 

Copyright Cláudio Vieira – 2009

Proibida a reprodução – no todo ou em parte do texto – sem a autorização do autor.


3 comentários:

Anônimo disse...

rosemberg

e a recompensa por todo esse esforço foi a terceira colocação da portela.
parabens a todos.

Cláudio Vieira disse...

Recebemos de Aguinaldo Dias, Diretor Financeiro da Portela, o email:
Gostaria de felicitar o amigo Claudio e ratificar a história que ocorreu na concentração da portela;porém vale ressaltar que naquele momento;com muito orgulho quem achou o Glauco e lhe avisou do
acontecido e da gravidade do fato foi seu amigo aqui.
Aguinaldo Dias.

Anônimo disse...

Mas que história, hein? Mestre Cláudio! Estás intimado (hehe!) a contar outras saborosas histórias de bastidores! Saudações curitibanas!