O barracão guarda histórias fantásticas, mais impactantes até do que as alegorias que provocam arrepios na platéia.
Por estar colaborando com a Portela em seus últimos carnavais, me aproximei desses anônimos que ajudam a construir a beleza dessa festa. E, consequentemente, de sua vida pessoal. Assim, as histórias surgem naturalmente, contadas no intervalo do café, em reuniões, e até mesmo em desabafos.
Um desses artistas anônimos chama-se Glinston Dias de Paiva, escultor em isopor, que me autorizou a contar a história que passo a narrar.
Glinston viveu um grande drama durante a confecção do enredo “Reconstruindo a Natureza, Recriando a Vida: O sonho vira realidade”, apresentado no Carnaval 2008. Sua filhinha, Maria Clara, nascera com sérios problemas de saúde e sobreviveu durante seis meses na encubadora. Morreu sem conhecer os afagos da mãe e a voz do pai.
O escultor ia à maternidade diariamente para ter notícias da criança. Sua maior preocupação, no entanto, era com a mulher, arrasada pelo sofrimento.
Pouco depois da morte da criança, Glinston recebeu a incumbência de produzir uma escultura que seria colocada no fundo do carro da Transformação, aquele dos bebês e das flores (foto da capa de Ensaio Geral no 22). E, ali, fez a sua singela homenagem (vista no detalhe da foto de Henrique Matos, acima). A Mãe Terra - que simbolizava uma grávida acariciando o ventre - foi esculpida com o rosto de sua mulher. A imagem representava o amor pela filhinha que não vingou.
No último carnaval, Glinston esculpiu as grávidas que vinham no carro da África, amamentando os filhos de seu predador: o branco.
Copyright Cláudio Vieira – 2009
Proibida a reprodução – no todo ou em parte do texto – sem a autorização do autor.
Um comentário:
Recebi de Nilton Júnior, com quem tive o prazer de trabalhar na Portela, o seguinte email:
Parabéns, Cláudio.
História muito bem lembrada...
Um forte abraço
Nilton Jr
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